[SLB] Quando estão na frente até correm mais

O Benfica entra no último terço do campeonato isolado na liderança, o que já não acontecia desde 1993/94. Nessa época, com Toni ao comando, o clube conquistou o título nacional, dando razão ao provérbio "candeia que vai à frente alumia duas vezes". E esta temporada, será que faz sentido aplicar o ditado à campanha das águias? O JOGO ouviu vários elementos ligados a essa equipa que há 17 anos encantou o País e ficou com a ideia de que sim, que, de facto, o povo tem razão: estar na frente é mesmo uma vantagem. "Os jogadores rendem mais, quer em termos físicos quer psicológicos", aponta Jorge Silvério, psicólogo do desporto.

Há uma série de dados que dão corpo à teoria. Em primeiro lugar, porque, como diria La Palisse, já tem mais pontos do que os adversários. Matemática da mais elementar que se traduz em dois factores: por um lado, o líder depende apenas de si próprio; por outro, tem uma margem de erro muito maior. Enquanto quem está em segundo ou terceiro se pode atrasar irremediavelmente com um simples percalço, quem está na frente pode dar-se ao luxo de empatar ou perder um jogo (ou mais) e continuar líder.


Confiança e motivação

Adquire-se um inegável capital de confiança, com tendência a crescer de jogo para jogo - quanto mais não seja porque se vai consolidando ao prolongar-se no tempo. Nasce uma dinâmica positiva, conforme aponta Jorge Silvério: "O clima positivo que é gerado transmite confiança e motivação, o que faz, obviamente, com que se jogue melhor."

Por outro lado, Jorge Jesus passa a ter uma nova arma. "O treinador pode usar a posição em que a equipa está para relembrar aos jogadores que são eles os melhores. E pode usar isso para o exterior. Ao dizer que está em primeiro porque é o melhor, desmotiva e instala a dúvida nos adversários", opina Silvério.

Numa equipa com dinâmica vencedora, os jogadores transcendem-se e, como afirma Pedro Henriques (lateral-esquerdo em 1993/94), "um jogador de nível médio até chega a parecer um craque". É a tal onda de que fala Jorge Jesus. Uma espécie de corrente energética que contamina também o público e que é difícil de ser contrariada. "Os benfiquistas sentem-se na obrigação de irem ao estádio apoiar e, com o Estádio da Luz quase sempre cheio, isso reflecte-se de forma positiva nos atletas. Por outro lado, aumenta os níveis de concentração", comenta Hélder Cristóvão, defesa-central de então.

A liderança acarreta, porém, os seus pequenos perigos. À espreita está o facilitismo - e daí à sobranceria é um passo. "Quanto mais tempo se liderar, mais provável é que se instalem esses defeitos. Para não se subestimarem os outros, é importante que a equipa se foque no desempenho que tão bons resultados lhe deu até ali", comenta Duarte Araújo, outro psicólogo ouvido por O JOGO.